sexta-feira, 8 de abril de 2016

Eu sou uma "Expat Wife"

Também denominada por "Trailing Spouse", "Expat Wife" é uma pessoa que tomou a decisão de seguir o seu marido para outro país por motivos profissionais relacionados com um contrato de trabalho internacional. Detesto o termo "Trailing Spouse"... prefiro "Traveling Spouse"!
O meu sonho sempre foi ser mãe e constituir uma família feliz. O desejo concretizou-se. Contudo, nunca aspirei deixar de trabalhar para ser mãe a tempo inteiro. A vida prega-nos algumas partidas e hoje sou, como muitas das minhas amigas, uma Expat Wife.

Há quem pense que tenho uma vida de "dondoca"... mas a realidade é um pouco diferente, um pouco menos romântica. Uma experiência como Expat Wife pode, na verdade, ser muito interessante, muito excitante e muito enriquecedora. Contudo, pode ter muitos momentos frustrantes. Esta frustração passa sobretudo porque uma Expat Wife tem que abdicar de muito da sua vida pessoal e profissional para ser o pilar do sucesso da família como um TODO.

  • É alguém que deixa a sua carreira profissional em espera. Quase 50% das Expat Wifes são licenciadas e tinham uma vida profissional de sucesso e estável antes de embarcarem nesta experiência internacional. (Fonte: Internations). Nos vários países que já vivi, encontrei a minha história reflectida em muitos outros exemplos.
  • É uma mulher FORTE que ultrapassa os limites da solidão e do isolamento da família e dos amigos
  • É o membro da família que mais absorve os momentos de stress da mudança. 
Apesar deste stress ser sentido por toda a família, para que a experiência corra bem, o marido deve estar focado no novo trabalho, nos novos desafios profissionais e, normalmente, trabalha mais horas e viaja bastante. A mulher, a mãe, tem que assumir as restantes infinitas responsabilidades. Tem que assumir o TRABALHO EMOCIONAL:
    • garantir que as crianças se adaptam bem na escola, onde muitas vezes falam um novo idioma
    • estabelecer novos laços de confiança com os pais dos amigos dos filhos e criar uma nova network social de amigos
    • adaptar-se a uma nova cultura e ultrapassar as diferentes fases do choque cultural
    • combater a perda de identidade e manter o equilíbrio do bem-estar emocional
  • Expat Wife tem que gerir a casa. 
Dependendo do país para onde se vive, a ajuda doméstica pode ter vários níveis, ou pode mesmo ser inexistente, dependendo dos preços praticados. Por exemplo, nos países da America Latina, é raro uma Expat Wife não ter uma ajuda doméstica e uma babysitter a tempo inteiro. Já nos EUA, por exemplo, a média de preços ronda os 150 dólares por uma limpeza da casa que dura cerca de 4 horas. Na Europa eu diria que é uma média destes dois extremos.
  • É a secretária oficial da família
Resolve a maioria dos assuntos burocráticos, tem que adaptar-se aos novos sistemas de pagamento, dominar o novo sistema de saúde, planear as horas de lazer da família, programar as férias, marcar viagens... 
  • Tem que descobrir os pontos críticos de sobrevivência para satisfazer as necessidades básicas da família
Tem que saber onde fica o Hospital, o pediatra, o dentista, a farmácia, os correios, a loja de conveniência, o supermercado (muitas vezes com rótulos incompreensíveis e medidas de pesagem diferentes do habitual). Em média, apenas 6 meses após a realocação no novo país há um conhecimento geográfico básico da nova área habitacional.
  • É alguém que não tem trabalho, quando muitas vezes quer trabalhar. Apenas 24% das "Expat Wives" conseguem arranjar um emprego e têm uma vida profissional activa (Fonte: Internations).

Mas é claro, que recebemos muitas coisas boas em troca. O pagamento do nosso trabalho é feito através da riqueza da vivência de certos momentos e experiências de vida que não têm preço nem são quantificáveis. Esta vida proporciona-nos o previlégio de conhecermos diferentes países como locais, de viajamos muito, conhecermos pessoas novas e criarmos relações de amizade fortíssimas que nos fazem pessoas mais felizes. 

Sim, é verdade, tenho uma vida mais calma, com mais tempo para mim, para os meus hobbies, divirto-me com as minhas amigas, aprendo um novo idioma, faço exercício quando me apetece, vou ao centro comercial, vou às compras, passeio muito e a gestão do dia até às 4 horas da tarde é minha! Mas todos estes previlégios são parte do salário do meu trabalho, do meu trabalho emocional que me mantém e mantém a minha família feliz.Valorizo a família e sou grata por tudo o que recebo. Tento não viver para a aceitação dos outros e viver para a felicidade interior.

Sou uma Expat Wife. Não é uma vida fácil, mas também não o era quando trabalhava a tempo inteiro. Houve dias no passado em que desejei deixar de trabalhar, tenho dias no presente que gostava de trabalhar... Não existe uma vida perfeita. Considero que, como Expat Wife, sou uma mulher de sucesso. Sou uma mulher de coragem, tenho a determinação e a vontade de ser a pessoa que nasci para ser. 


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